Os 3 Pilares - KUMITÊ

“Kata e Kumitê são como as duas rodas de uma carroça.” Essa frase foi retirada de um dos livros de Nakayama da série “O melhor do Karatê”, onde podemos entender que essas duas peças fazem parte de toda uma obra de arte, a qual conhecemos como a prática do karatê-dô. E se interpretar pelo contexto do autor colocado acima, as “rodas” são as partes responsáveis por manter a “carroça” em movimento, ou seja, dentro do seu principal objetivo de “carroça”.

Ainda segundo o livro de Nakayama, temos o contexto histórico ao qual foi introduzido o kumitê no desenvolvimento do karatê, cita-se:
“Antigamente, em Okinawa, o karatê baseava-se quase que exclusivamente no kata…”
“O kumitê básico, que passou a ser praticado no final da década de 20, foi estudado e aprimorado, e o Jiyû Kimitê (combate livre) foi desenvolvido. “

Explanando de forma mais simples, o Kumitê, é área de desenvolvimento do Karatê que foca no desenvolvimento do combate frente a frente, de modo a aprimorar as técnicas de ataque, defesa, arremessos, projeções, bases e esquivas, ensinadas de forma básica, bem como as técnicas e sequências contidas nos kata, de forma mais complexa.

Dando ênfase na aplicabilidade nos katas, se trata de uma forma de trazer o combate imaginário para a prática real.

O Kumitê, foi desenvolvido em partes sequenciais que proporcionam um aprendizado gradual ao praticante de acordo com seu nível de desenvolvimento técnico, e amadurecimento de conceitos e práticas proporcionadas ao longo da sua formação, contribuindo para o descobrimento dos que muito citam, “técnicas ocultas”, contidas nas sequências dos kata. Mais a frente dessas publicações, esclareço melhor, o que são as tais “técnicas ocultas”, dos kata.

Essas partes sequenciais são classificadas em dois métodos de treinamento: Kihon Kumitê e Jiyû Kumitê. Vamos falar um pouco mais sobre esses métodos!

Yakusoku Kumitê / Kihon Kumitê ( método de combate combinado - básico).

Neste formato de treinamento, as técnicas e bases, tanto de ataque como de defesa, são predeterminados de modo que num primeiro momento os praticantes comecem a entender as práticas repetitivas do Kihon e do Kata. Apesar de essa prática ser denominada como básica, ela pode apresentar níveis de dificuldades diferentes conforme a evolução do praticante. Inicialmente o mesmo busca a prática, coordenação e entendimento das técnicas essenciais de forma menos controlada e mais lenta; e em modos mais avançados, o praticante, treina a força, velocidade e o controle da técnica antes de explodir no alvo. 
Trocando em miúdos, seria como se você fosse um membro de um esquadrão anti-bombas, cortando o fio certo no último segundo! Quase ao ponto de explodir. Portanto, não se iluda, achando que por ser um método “básico”, é facilmente dominado! Negativo! Como tudo no Karatê, é suado, doloroso e atemporal.
Eu gosto de citar referências bibliográficas para fundamentar o que escrevo, portanto a sequência a seguir, está contida no livro “O verdadeiro caminho do Karatê”, escrito por Tognin, Gotuzzo A. C., e ordena de forma lógica as variantes de treinamento do Kihon Kumitê da seguinte forma:

  1. Gohon Kumitê = combate sobre cinco passos;
  2. Sambom Kimitê = combate sobre três passos;
  3. Ippon Kumitê = combate sobre um passo.

Ao meu ver essa ordem segue a seguinte lógica, conforme se aumenta o nível de repetição e treinamento, diminui-se os passos de cada prática, e no Ippon Kumitê o praticante, encontra-se, mais bem preparado para um combate mais rápido de apenas um passo.

Kihon Gohon Kumitê - Video

Kihon Ippon Kumitê - Video


Jiyû Kumitê (Combate Real)

Logo após a parte de Kihon como 4º método, Gotuzzo, cita o Jiyû Ippon Kumitê, denominando este como combate real sobre um passo.

Segundo Sensei Kanazawa, em sua obra, o “Guia Prático do Karatê”, cita o seguinte objetivo desse método de combate:
Ao praticar Jiyû Ippon Kumitê, o atacante tenta encurtar a distância entre ele e seu adversário, enquanto procura oportunidade de lançar um ataque. O defensor pode se movimentar estrategicamente de forma a tentar impedir o atacante de se aproximar à uma distância de ataque fácil, mas não pode fugir das abordagens do atacante.” Nakayama cita o seguinte: “Depois de ter anunciado a àrea geral do seu alvo um dos parceiros ataca subitamente e com muito vigor. O outro parceiro bloqueia e contra-ataca”.”Ambos tem de estar bem treinados e altamente habilitados, pois esta deverá parecer uma disputa real. Nenhum deles deve achar que tem uma segunda chance; o primeiro ataque, ou bloqueio, é decisivo.

Resumo...Se trata de combater de forma dinâmica, com aplicações contundentes que objetivam o nocaute em um único golpe ou aplicação. Para o ataque, se resume, em equilibrar a distância, velocidade, força e precisão de aplicação, enquanto para o defensor, se trata de distância , tempo, reflexo, e o contra-ataque quando possível, em seu modo mais efetivo possível.

Jiyû Ippon Kumite - Video


Jiyû Kumitê (Combate real - livre)

Nesta prática, tanto Nakayama quanto Kanazawa, citam seu conceitos de forma parecidas. Suas definições citam que nesse nível de treinamento os praticantes apresentam toda a sua maturidade técnica equilibrando força, distância, velocidade, estratégia, nas aplicações de golpes e bloqueios de forma dinâmica e livre. Mas o que ambos citam como fator que determina de fato o alto nível técnico desse combate segue com os dizeres de Kanazawa sensei: “É essencial, no entanto, que cada soco, ataque e chute sejam controlados, parando um único sun (cerca de 3 centímetros), antes de fazer contato com o alvo (uma prática chamada sun-dome, que significa “parar um sun [antes do contato]”). Enquanto sun-dome é um componente indispensável do Jiyû kumitê, o objetivo não é apenas relaxar antes de fazer contato, mas sim desferir golpes com força e espírito de modo que seu poder explosivo culmine diretamente em frente ao alvo.


Jiyû Kumitê - Video


E o mais recente formato de combate acoplado ao karatê, se define como Shiai Kumitê. Esse, por sua vez, é voltado ao karatê como esporte, ou seja, combate com objetivo de pontuação. Esse formato segue regras adotadas pelas federações que regulam o Karatê esportivo, sendo a mais conhecida, WKF (World Karate Federation). O que em minha opinião define a pontuação do shiai, seria a velocidade em que os oponentes precisam desenvolver para buscar mais pontos, e se possível o primeiro ponto. Como podemos observar nos formatos de kumitê anteriores para o Shiai, vejo que nos demais, busca-se o desenvolvimento de técnicas, controle, espírito de combate, mente, e o equilíbrio desses fatores para uma técnica altamente fatal e efetiva, onde no shiai existem também estes fatores porém focando numa técnica, menos fatal,  onde o foco é velocidade e precisão.

Shiai Kumitê - Video


Esse tema foi estrategicamente deixado por último, devido os seus conceitos serem muito bem definidos sequencialmente, porém necessitando de uma explanação um pouco mais abrangente, haja visto que não vemos atualmente um conteúdo publicado que deixe explícito tais conceitos como colocados aqui.

Espero que esse conteúdo sirva de norte para treinamentos e revisão dos conceitos de prática do karatê nos dias atuais.

Bons estudos e bons treinamentos, Nação Karateca! Osu.


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